Dois estudos sobre dietas alimentares ganharam destaque recentemente na imprensa. Publicadas em periódicos científicos conceituados, as pesquisas indicam que tanto a dieta mediterrânea quanto a vegetariana são eficazes na diminuição do risco de problemas cardiovasculares, como o derrame e o infarto – a causa número um de mortes no Brasil e no mundo. Apesar dos benefícios semelhantes, porém, ambas pregam cardápios bem diferentes. Uma, a mediterrânea, é rica em azeite, castanhas e peixe. Já a outra, a vegetariana, sugere a exclusão total das carnes (brancas e vermelhas).
Mas então, qual a mais indicada? Para o Dr. Antonio Gabriele Laurinavicius, cardiologista do Einstein, ambas são válidas, mas a mediterrânea acaba sendo a opção mais palatável, menos restritiva e, portanto, mais viável no longo prazo. A base comum dos dois modelos dietéticos é a ênfase nas frutas e verduras, em detrimento das carnes vermelhas, que no vegetarianismo são banidas, enquanto na dieta mediterrânea são significativamente reduzidas em favor das carnes brancas.
Mas, além disso, a dieta mediterrânea foca também outros aspectos que parecem ser tão relevantes quanto a própria redução/eliminação da carne vermelha. “É um erro demonizar apenas um alimento específico (carne) e esquecer o quadro geral. Quando falamos em dieta, o que realmente importa é o conjunto da obra”, afirma Laurinavicius. “Uma dieta saudável é uma dieta variada e balanceada: o prato colorido, rico em legumes e verduras, pobre em frituras, alimentos industrializados e altamente processados”, completa.
Divulgada no dia 25 de fevereiro de 2013 no New England Journal of Medicine, o estudo sobre a dieta mediterrânea acompanhou um grupo de 7.447 espanhóis (homens e mulheres), na faixa dos 55 aos 80 anos, num período de cinco anos. Em entrevista à Associated Press, pesquisadores do Hospital das Clínicas de Barcelona, responsáveis pela pesquisa, explicaram que a faixa etária estudada foi proposital, pois o grupo é considerado crítico para doenças do coração. Todos, sem exceção, eram pacientes de alto risco, com sobrepeso, pressão alta, colesterol, diabetes e/ ou fumantes.
Entre os que consumiram a dieta mediterrânea, o risco de problemas cardiovasculares graves foi 30% menor do que entre os indivíduos orientados a seguir uma alimentação com pouca gordura (sem cortar o nutriente). Baterias de exames laboratoriais foram feitas para verificar que os pacientes estavam seguindo o cardápio mediterrâneo.
“A dieta mediterrânea é um ótimo exemplo de alimentação balanceada pouco industrializada. Seu sucesso na prevenção das doenças cardiovasculares confirma que não devemos concentrar os holofotes sobre um tipo específico de alimento, mas sobre hábito alimentar geral e, ainda mais genericamente, sobre o próprio estilo de vida”, afirma o cardiologista do Einstein.
Já a dieta vegetariana ganhou novamente destaque no noticiário em 31 de janeiro de 2013. Publicado na revista American Journal of Clinical Nutrition, um novo estudo sobre o tema foi conduzido por cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Nele, 45 mil voluntários, com idade entre 50 e 70 anos, foram monitorados num período de até 12 anos. A pesquisa faz parte de um estudo sobre o câncer e nutrição denominado European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC).
A exclusão de todos os tipos de carne do cardápio reduziu em 32% o risco de hospitalização e morte por doenças cardiovasculares em comparação com indivíduos que consomem carne e peixe. Os vegetarianos também apresentaram índices de massa corporal (IMC) menores e menos casos de diabetes.
“É importante lembrar que os benefícios do vegetarianismo não decorrem exclusivamente da eliminação da carne. Indivíduos vegetarianos tendem a cultivar, em geral, um estilo de vida mais saudável: tendem a ingerir mais frutas e verduras, fumam menos e praticam mais atividade física. Assim, é bastante difícil extrapolar de qual destes aspectos individuais do vegetarianismo decorre o benefício. Todos contribuem”, diz Laurinavicius.
E a carne vermelha?
“Carnes vermelhas são ricas em gorduras saturadas, cuja ingestão está diretamente associada ao aumento nas taxas sanguíneas de colesterol”, explica o cardiologista. “Além disso, o preparo de carnes vermelhas envolve o uso de quantidades significativas de sal e o acompanhamento frequente de molhos e cremes igualmente ricos em gorduras. Certos acompanhamentos comuns, como as batatas fritas, são igualmente prejudiciais.”
Por outro lado, de acordo com Laurinavicius, a carne vermelha é especialmente rica em proteínas, macronutrientes essenciais na alimentação humana. “Por esse motivo, ao limitar a ingestão de carne vermelha é preciso considerar outras fontes de proteínas. A boa notícia é que essa não é uma tarefa particularmente difícil, dado que altos teores de proteínas são encontrados em vários outros alimentos, como nas carnes brancas, no leite e derivados lácteos, na soja e em legumes como o feijão e as lentilhas.”
De acordo com o American Heart Association (AHA), “a recomendação é de que o consumo de carne vermelha se limite às carnes magras e que não supere 85g/dia, o correspondente a um filé não maior que a palma da mão”, diz Laurinavicius. “Nossa recomendação é que o consumo não seja diário e que seja intercalado com carnes brancas. A evidência atual é que quanto menos carne vermelha na dieta, melhor para o coração.”
Fonte: Dr. Antonio Gabriele Laurinavicius, cardiologista do Einstein .